domingo, 9 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM ADEMIR DA GUIA - O DIVINO DA BOLA parte 3: O Adeus inesperado e os dias de hoje


Em 1977, com 35 anos de idade, o Divino ainda sentia-se bem para jogar futebol, porém, em agosto, foi detectado um problema que provocava uma secura na garganta e isso fazia com que ele não conseguisse correr. A descoberta da doença fez Ademir da Guia decidir pela aposentadoria. Ainda no 2º semestre, o meio-campista já não jogava mais com intensidade e estava em boa parte do tempo no banco de reservas. Era o adeus...

No fim do mesmo ano, Ademir fez a sua última partida como jogador contra o Corinthians. A despedida foi emocionante. Jogou apenas um tempo, mas, ao sair de campo, foi aplaudido por todo o estádio, inclusive pela torcida rival.

Precocemente, o ídolo palmeirense deixava os campos. Ele ainda queria jogar, mas a doença repentina o fez parar e cuidar da saúde. Cirurgias foram feitas, porém sem curas. Ademir ficou por muito tempo sem poder praticar atividades físicas. Após 20 anos afastado, ele conseguiu superar o problema e voltou a fazer esportes.
“Eu parei com 35 anos, mas dei graças a Deus que o problema apareceu nesta idade. Pois se aparecesse com 25, teria que parar com 25. Mas jogaria tranquilamente mais uns quatro anos pelo menos. Eu ia chegar a mais de mil jogos no Palmeiras. Eu não parei de jogar, eu tava jogando, tava bem, fiquei doente. Pra mim, o importante foi poder vencer a doença. Outros jogadores tiveram o planejamento e dizer que vão parar. No meu caso, não tive isso, eu não parei de jogar”, desabafa o palmeirense.

Em 1984, recebeu uma festa de despedida. O evento foi organizado pelos amigos companheiros da época de Palmeiras, César Maluco e Luís Pereira. Entretanto, ainda não era a tão sonhada despedida do Divino. Ele afirma que continua jogando e pensa em se despedir somente após a inauguração da Arena Palestra Itália, prevista para 2013.

Foram 16 anos de prestação de serviços ao Verdão. Neste período, Ademir foi idolatrado como um dos grandes representantes da melhor fase da história palmeirense, as duas Academias nas décadas de 60 e 70. Ele é considerado, por muitos, o maior ídolo da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Os números são incontestáveis com a camisa verde e branco. Disputou 901 jogos, venceu 509 partidas, empatou 234 e perdeu apenas 158. Fez em toda a trajetória no time paulista, 153 gols. Como prova do reconhecimento, o clube construiu um busto de bronze nos jardins do Palestra Itália. Hoje, o estádio sofre uma reconstrução, mas é certo que o busto ficará nos arredores da Arena.
“O Palmeiras me deu tudo aquilo que um jogador tem ambição de ganhar, inclusive tive a oportunidade de conhecer o Brasil, conhecer a América do Sul, Central e Norte, a Europa, nós fomos à Rússia, Japão. Então são coisas que você ver que na vida normal, você não consegue. O Palmeiras me projetou, pois a gente foi cinco vezes campeão paulista, cinco vezes campeão brasileiro o qual mudava de nome e consegui chegar a uma copa do mundo em 1974, na Alemanha. Na verdade, a minha carreira faltava isso, poder também como meu pai, participar de uma Copa do Mundo”, conclui Ademir.

Nos últimos anos, o ex-jogador partiu para o segmento político, e se tornou vereador em São Paulo. Ele admite que aderiu a esse caminho, pois na idade em que está, é importante sempre permanecer na ativa.
Atualmente, o Divino está bem de saúde. De vez em quando joga futebol de masters. Ele revela que ainda deseja estar trabalhando no futebol, principalmente dentro do campo, pois é mais fácil já que por muitos anos militou neste esporte. Sobre a possibilidade de ser treinador, Ademir da Guia admite que coragem não falta, mas principalmente deve-se ter disposição para trabalhar na área.

Sem deixar a bola cair, ele deu o seu “pitaco” sobre a seleção brasileira na Copa de 2014. Segundo Ademir, se o técnico não conhecer os seus titulares, definir quais são, fica muito difícil de entrosar o time, fazer a equipe ganhar experiência internacional. Mas ele acredita que dentro de um a dois anos, ainda dê tempo para resolver este problema.

Por fim, o ídolo do Palmeiras fala sobre a situação atual do time de coração. Nos últimos anos, o alviverde vive uma situação complicada dentro e fora de campo. O clube está carente de títulos, ao contrário dos rivais Corinthians, São Paulo e Santos, que frequentemente ganham campeonatos. Dos quatro grandes é o que está há mais tempo sem conquistar um torneio nacional. Segundo o Divino Mestre, a receita para que o Verdão acabe com a fase turbulenta é encontrar a confiança para achar o caminho das vitórias. “O futebol vive de vitórias. Neste Campeonato Brasileiro, nós perdemos o foco. Estávamos em quarto, caímos para quinto, sexto, sétimo e aí cada vez a gente se distancia mais. Assim, fica muito difícil, pois eu sempre bato na mesma tecla. Temos um time titular? Às vezes, Kléber não joga, Valdivia não joga, Marcos também. Então, eu não vejo o Palmeiras como equipe titular, onze jogadores que você possa falar que esses são os que vão resolver. Enquanto não tivermos onze titulares, ai fica muito difícil, por que um joga hoje, outro amanhã e a equipe não joga bem, está sem confiança, não faz gols. Tudo isso é importante para que o jogador possa entrar com confiança, conhecendo o colega, sabendo como ele vai tocar. Se você coloca um hoje, outro amanhã, os jogadores não se conhecem, consequentemente os resultados não vêm e isso causa toda essa confusão”, palavras de Da Guia.

Em 2001, o ex-jogador virou tema de um livro chamado “Divino: Vida e a arte de Ademir da Guia”, de Kléber Mazziero de Souza, que conta a história da carreira do ídolo. Cinco anos mais tarde foi lançado um filme que conta a trajetória do palmeirense, “Um craque chamado Divino”, de Penna Filho. Homenagens merecidas a uma pessoa que, em 2012, completa 70 anos de vida e é exemplo para muitos jogadores de futebol que surgem agora no cenário nacional. Passou praticamente toda a carreira num clube que aprendeu a amar e foi correspondido. Além de tudo isso, trata os seus admiradores e críticos com o mesmo carinho com que tratava a bola nos pés.

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